Dias atrás peguei o trem voltando do trabalho e
logo atrás de mim entrou um senhor com uma bolsa grande. Ele largou a bolsa em
um dos bancos e foi ao banheiro. Ele simplesmente deixou seus pertences lá, sem
desconfiar de ninguém, sem maldade, sem preocupação. Não foi a primeira vez que
vi essa cena. Essa confiança cega na bondade das pessoas, afinal, quem iria levar
a bolsa embora?
Demorei pra ter esse tipo de atitude, de
largar minhas coisas de valor em algum lugar, sem supervisão e acreditar que
quando eu voltasse, seja daqui 2min ou dali 20min, estaria tudo intocado.
Quando vamos na piscina, arrumo nossa toalha no chão, ajeito nossa bolsa e o
carrinho do Leon e vamos para a água. Quando voltamos está tudo no lugar, do
jeitinho que deixamos. (pelo menos até agora...) Ali é um lugar cheio de famílias,
com crianças, jovens e carrinhos de bebê, que tem as mesmas coisas que eu tenho
e sem interesse de ter algo que não os pertence. Alguma coisa me passa
segurança. Meus filhos brincam com os brinquedos dos outros, os outros pegam os
brinquedos dos meus e ficamos em paz.
Mesmo depois de 9 anos, ainda não tenho
coragem de largar minha bolsa no banco do trem, nem sei se terei. Afinal, excessões
tem em qualquer lugar. Mas admiro essa confiança e esse crédito que os suíços
depositam na bondade, ou pelo menos na falta de maldade dos outros. Pensando
bem, não tem apenas a ver com bondade ou maldade e sim com a falta da
necessidade de levar algo que não é seu. Obrigada políticas sociais!